sábado, 16 de fevereiro de 2008

Alagoas grita por ética


Quem assistiu ao filme O Evangelho Segundo Teotônio deve ter ficado com saudades do tempo em que Alagoas era lembrada pela história de seus mais ilustres filhos. A lembrar: Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Lêdo Ivo, Pontes de Lima, Jorge de Lima, Graciliano Ramos e o próprio Teotônio Vilela, pai, o Menestrel das Alagoas.
Conheci o velho Teotônio na década de oitenta. Minha turma de Odontologia iniciava os preparativos para a formatura da UFAL. Naquela quadra de tempo, a figura ímpar do boêmio da Viçosa destacava-se como um dos maiores políticos da República,
Escolhemos, por unanimidade, aquele esguio e brilhante Senador de bigode farto e inteligência privilegiada como nosso patrono de formatura. Recebi, entre surpreso e orgulhoso, a missão de contatar Teotônio.
Liguei. Marcamos encontro. Era uma bela tarde de sol morno de setembro em Maceió, quando tive acesso à residência dos Vilelas, na Gruta. Sem muita demora, logo surgiria à minha frente o suave sorriso do Menestrel das Alagoas.
Fiz-lhe o convite, prontamente aceito. Teotônio declarou-se orgulhoso e agradecido e começou a falar do Brasil: era uma poesia profunda, sentida e rica de amor à pátria. Falou-me também de Alagoas, de nossa gente. Emocionou-se. Tinha os olhos brilhantes e marejados.
Já era noite quando deixei Teotônio em seu alpendre, inteiramente entregue a seus pensamentos patrióticos.
Tive vários encontros com o Senador. Encontros sempre enriquecedores, todos importantes. Guardei, para sempre, a imagem de um homem simples e correto que abandonou a comodidade de uma vida descomprometida e dedicou-se às árduas campanhas de consolidação da vida democrática brasileira. A mudança dera-lhe credibilidade, prestígio e reconhecimento da nação.
Após a formatura, passei algum tempo sem avistar Teotônio. Fui reencontrá-lo tempos depois, numa noite em Pajuçara, já doente e debilitado. Ele me olhou e sorriu. Um sorriso que não chegava a ser triste. Era um sorriso de quem reconhece que assim é a vida!
Um dia ele se foi e Alagoas ficou órfã da honradez e do espírito destemido do velho e honrado Teotônio Vilela.
E agora, quando Alagoas volta aos noticiários como um terra desprovida de vergonha, cabe-nos relembrar e reverenciar a memória desse grande alagoano que colocou sua terra no lugar onde seu povo merece.

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