quinta-feira, 5 de abril de 2012

A casa de minha avó

A vida passa, mas há emoção que fica para sempre, entranhada na alma e marcada no coração. Lembro-me bem que, durante toda infância, eu pedia à minha mãe para passar as férias de verão com minha avó.
Não era para menos: a casa dela era um lugar sereno e mágico. Um recanto perfumado onde eu podia conviver com a sabedoria daquela mulher pequenina, de cabelos grisalhos, olhos azuis bem claros e voz suave e meiga.
Ele tinha prazer de ler meus boletins escolares. Quando as notas eram altas, ela sorria de contentamento. Falava que eu era um bom aluno e me incentivava a continuar assim. Quando as notas baixavam, ela fingia que não tinha importância nenhuma, dizendo-me que iria melhorar adiante, pois eu era capaz e ela acreditava em mim.
A casa de minha avó parecia cenário extraído das histórias fabulosas de Walt Disney. Era uma casinha branca, de portas e janelas vermelhas, sempre bem pintadas e bem cuidadas. Aquele lugar era tão maravilhoso que dei a ele um nome secreto, que nem ela sabia: "meu castelo".
Católica fervorosa, minha avó ensinou-me o catecismo. Com ela aprofundei minha relação amorosa com Deus e compreendi a importância do amor simples a todas as criaturas. Ela me mostrou que a esperança, a paz e a benquerença são atributos bem mais vigorosos que a dor, o sofrimento e a indiferença.
Certo dia, recebi a notícia de que minha avó havia se recolhido para dormir e não mais acordara. Com o coração despedaçado de tristeza, dirigi-me àquele "meu castelo" que dizia tanto da minha vida e de nós dois. Cheguei. Olhei para aquele lugar, para as pessoas que passavam e para a casa branca, de portas e janelas bem vermelhas.
À primeira vista, tudo parecia igual, mas eu sabia que aquele lugar nunca mais seria o mesmo. Era somente uma rua e uma casa bonita, repleta de lembranças. Afinal, a mulher mais importante do lugar tinha subido às estrelas para se encontrar com Deus, enchendo o céu de bondade e as nuvens de luz!

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